segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Mas eu gosto mesmo é da tua liberdade

Eu preciso desse vento no rosto
Passando tudo em movimento
Enquanto estou parado

Essas chicotadas de cabelo
Em tom de liberdade
E gosto de maresia

Preciso do teu sorriso frouxo
do riso de graça 
da brincadeira à toa

Quero de tudo um pouco
Mas em nós,
sabemos,
o que há é necessidade

“Fica mais um pouco”,
suspiramos.
E em qualquer som 
já somos incapazes
de resistir.

Mas eu gosto mesmo 
é da liberdade
e do gosto de maresia

Com você 
eu não sei 
não sei o quê é

Gostar do teu abraço
Seria como falar muito pouco
de algo que sequer entendo

O seu olho no meu 
é uma respiração.
A sua mão na minha
é um piscar.

Somos água 
da mesma fonte
Plantas diferentes
do mesmo vaso.

Digo que te amo
mas isso você
convencido
bem sabe

Gostar
eu gosto mesmo
é da tua liberdade. 





terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O riso machuca como uma lâmina

O riso machuca como uma lâmina
Uma gargalhada desvairada 
no silêncio 
que quer ser absoluto
Ousando ser 
sem dever existir
Gritar sem aviso
e sussurrar palavras sem sentido
O sabor não tem nem 
gosto
Mas gosto
de saber porquês
Mesmo não sabendo nenhum

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Parecia Natal

Toda noite, em cada sonho, me aparecia um novo você. Qualquer um me fazia feliz. Te ver de relance já bastava. Às vezes, em te ver de longe, já tinha mais do que nada. Mas eu não queria. Talvez quisesse, mas não queria.

Aos poucos, se iam os amores. Um a um. E, por alguma razão, você ainda estava lá. Em sonho estava, em realidade não. Nos sonhos, estava em todos. Na realidade, em nenhum. Nos momentos de choro, você me abraçava. Iluminava a casa toda, só pra me ver feliz. “Um sorriso, ao menos, vai”, pedia, gaiato, porque sabia que assim sempre me fazia rir. Parecia outro e, de parecer outro, não parecia ninguém. Mas não importava. Não ali.

Parecia Natal com você. Sinto falta do Natal… Das luzes… Vou sentir falta de você.

Sua voz não vai embora… Queria acordar sozinha, ou apenas sem você. Poderia ser alegria, no entanto era tortura. 

Posso ter desejado um você. Desejei.  Mas o que eu quero de verdade – e me recuso a admitir – ainda é você. Sem firulas, sem enfeites, adornos ou meias palavras. Pode nem ser Natal. Pode ser Quarta de Cinzas, pós-Carnaval, ou a primeira Segunda de aulas. Pode ser primeiro dia no trabalho novo. Na verdade – verdade mesmo – bastava ser só você…

Mas, agora, veja só, quero é fugir disso. De nós. De mim. Das lembranças que machucam… Mais ainda das que me fizeram bem. Mas não se foge de um sonho, tanto quanto não se foge de uma realidade.  

Parar de fugir é parar de fingir que me fez mais bem do que mal. Poder acordar em um mundo em que sentir sua falta não signifique tanto. Um lugar, assim, meio louco, em que você não me importe, tanto quanto eu não importei.

Nos meus sonhos, sempre te vejo feliz. Meu consolo é que estejamos todos mais felizes. Ou, apenas, menos tristes. Ouço ecos de risadas (alegres), de uma vida que só pertence a ti, e mais ninguém. A dor é tentar não me ressentir por estar tão bem. Hoje entendo. Ou começo a entender. 

“Quero”, “quero”, “quero”… E, “querer”, eu quero até demais. Quando acordar, quem saiba possa  finalmente poder me despedir. Sem olhar pra trás ou para os lados, procurando, em alguém, os traços de você. Sem encontrar vestígios seus em cada canto escondido da minha vida. Sem ter você em 3 de cada 5 dos meus pensamentos ou em cada 4,5 de 5 das minhas angústias. 

Quando acordo, no silêncio, no escuro de meio de noite, sua ausência me dá alívio. E, o alívio, tristeza. 

domingo, 21 de setembro de 2014

Vida que segue

Um dia, penso eu, alguém poderá vê-la como eu vi.

Usei-a como quem usa uma roupa de domingo. Respeitosamente, porém apenas com um propósito. Pensei nela como mãe dos meus filhos. Pensava em velhice, em família, em sexo. Pensava até em carinho…

Dessa mulher eu sei pouco, ou sei até demais. Das duas uma, então irei pela presunção que persegue o ego de qualquer ser humano.

Não temos história… Hoje vejo. Temos desentendimentos, encontros marcados, marcantes… Tivemos, inclusive, certa dose de paixão.

Penso nela com desgosto. Ou melhor, um amargo na boca que não me deixa sorrir. Em mim, com raiva. Pois quem há de ter sido tão burro quanto eu? Que me forcei a enxergar coisas que nunca deveria ter visto… Agora vejo. Vejo e não sou mais feliz por isso.

Nos bares, éramos unânimes. Ainda somos. Mesmo não sendo. Há ainda algo como a lembrança do roçar de sua saia nos meus sapatos engraxados e na calça engomada.

Por esses dias, ela dança com outros. Eu sempre vou assistir. Gosto de me esfregar na cara as ilusões e os iludidos.

Hoje olho todos e quase grito “CEGOS!”. Mas logo me recomponho, lembro que há horas atrás o bobo era eu. E ela era apenas ela. Ela que nunca se escondeu. Nunca teve vergonha. Ela que nunca mentiu. Ela que sempre dançou com perfeição a todas as músicas que tocam no salão. 

Com quem queria. Até não querer mais. E um dia me quis. Ela sempre foi ela. Eu vi outra. Eu quis que fosse outra. 

O erro foi meu, mas a culpa foi dela. O erro foi dela, mas a culpa foi minha.

Ou os dois… Talvez ainda tenha jeito. Talvez ela nunca vá ser mais nada além do que exatamente aquilo que é.

Quem sabe não desiste da Salsa. Quem sabe ainda não dançamos um Tango? Quem sabe…

Mas o que eu quero agora, é vê-la girar, girar e girar pelo salão, passando de mão em mão e passando por mim sem piscar.

Vida que segue. 

Vida que seguiu.

domingo, 13 de abril de 2014

Quando uma lágrima desce

Quando uma lágrima 

desce

é                                       um                              caminhomudo


l
o
n
g
o

terça-feira, 25 de março de 2014

In Memoriam

Há pessoas que marcamos, para o bem ou para o mal. E há também aqueles que nos marcam.

Algumas vezes essas marcas são como vestígios de batom, que relutamos em lavar. E que mesmo quando saem ainda deixam um rastro invisível, formigando na pele. Outras vezes, as marcas são cicatrizes, escondidas por baixo de camadas e camadas de tecido.  Nuances estranhas, pequenas até, que incomodam  ao toque e, pior, à imaginação.

Já levei chutes. Vários. E tenho certeza de que ainda vou levar uma boa quantidade de rasteiras - e isso só conjecturando os próximos dez anos, os outros vinte então...Um tapa na cara. Ou um soco no nariz. Talvez sejam assim as marcas ruins que trazemos - e que eventualmente fazemos também. Ou, talvez, sejam até melhores em forma de dor física...

Mas o que está em questão, em especial, não são técnicas de MMA, mas algo mais singelo. Lábios de mel transbordando em conselhos e mãos gentis que consolam os sonos mais agitados... São marcas que de tão leves se tornam profundas e, de tão profundas, às vezes se tornam esquecimento...  

Talvez seja “apenas” um pesar. Uma percepção tardia de algo que esteve sempre ali e, de repente, não está mais. Um sentimento infantil de que pessoas boas não deveriam desaparecer... Mas só consigo pensar, talvez como um conforto - ou mania de conjecturar a verdade - , que carregamos essas pessoas conosco. Nem que apenas em algo tão singelo quanto um roçar de lábios embebidos de coloração vermelha, daquelas à prova d’água e de tempo.

Esse pequeno pensamento compartilhado eu dedico in memoriam aos que passaram. Um reconhecimento, quase silencioso, aos que muito me ensinaram.

Para Moysés, Heloísa e Myrthes, pelas marcas de carinho e sabedoria que distribuíram e ainda distribuem por aí...

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Sempre um pouco menos

Eu espero que você esteja bem. Que tenha encontrado uma garota bem ao seu estilo e que te faça bem, que trate bem seu irmão e que impressione a sua avó nos almoços de domingo. Uma garota que tenha lido Dostoiévski — e que saiba pronunciar seu nome. Espero que ela entenda de música e goste de saxofone, mas que também saiba jogar aqueles jogos malucos de PlayStation. Ela parece uma menina dessas que é bonita e inteligente, que tem uma voz boa pra cantar. Ela devia até conhecer aquele guitarrista nigeriano e o baixista daquela banda estranha. Espero que ela coma froie gras em um brunch e saiba a diferença entre os vinhos.

Na verdade, não espero nada disso. Quer dizer, espero que você esteja bem e feliz e tudo mais, mas a gente se torna possessivo com as pessoas que gostaram de nós. É um sentimento engraçado esse de quando tem alguém que te considera importante. Dá vontade de ter sempre assim. Dá vontade de que a pessoa pense em você sempre. Nós tornamos possessivos com quem já nos quis. Mesmo que eu tenha ido embora. Mesmo que tenha sido difícil. Eu te quis o suficiente, você me quis tudo o que podia. E eu queria que me quisesse pra sempre. Agora, espero que você queira a ela. Mas sempre um pouco menos do que você me quis.