terça-feira, 4 de outubro de 2011

Culpava o coração.

Culpava o coração por aquilo tudo. Pelos batimentos rápidos demais, tanto que chegavam a fazer doer. Maldizia-o em silêncio enquanto segurava as lágrimas. Pobre órgão. Pobre conjunto de músculos que não faziam senão obedecer. Se pudesse, bateria devagar. Se pudesse, acalmaria o corpo. Mas ele só obedecia. Era preciso que cessasse a onda louca de hormônios. Era preciso que se fechasse os olhos, tapasse os ouvidos, entorpecesse a pele, cerrasse os lábios, fechasse as narinas. Mas não seria o suficiente. Bastava uma memória de algo que nem fazia sentido parecer com ele. E pronto. Não precisava nem fazer muito sentido. Era só um gatilho e pronto: fim da calma. E o coração suportava, calado, as maldições em silêncio, esperando que um dia entendessem que não era culpa dele, pobre órgão, pobre escravo.