domingo, 16 de fevereiro de 2014

Sempre um pouco menos

Eu espero que você esteja bem. Que tenha encontrado uma garota bem ao seu estilo e que te faça bem, que trate bem seu irmão e que impressione a sua avó nos almoços de domingo. Uma garota que tenha lido Dostoiévski — e que saiba pronunciar seu nome. Espero que ela entenda de música e goste de saxofone, mas que também saiba jogar aqueles jogos malucos de PlayStation. Ela parece uma menina dessas que é bonita e inteligente, que tem uma voz boa pra cantar. Ela devia até conhecer aquele guitarrista nigeriano e o baixista daquela banda estranha. Espero que ela coma froie gras em um brunch e saiba a diferença entre os vinhos.

Na verdade, não espero nada disso. Quer dizer, espero que você esteja bem e feliz e tudo mais, mas a gente se torna possessivo com as pessoas que gostaram de nós. É um sentimento engraçado esse de quando tem alguém que te considera importante. Dá vontade de ter sempre assim. Dá vontade de que a pessoa pense em você sempre. Nós tornamos possessivos com quem já nos quis. Mesmo que eu tenha ido embora. Mesmo que tenha sido difícil. Eu te quis o suficiente, você me quis tudo o que podia. E eu queria que me quisesse pra sempre. Agora, espero que você queira a ela. Mas sempre um pouco menos do que você me quis.