terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Armando

Queria poder estar contigo. Sentir suas mãos nas minhas e aquele cheiro de cigarro que é só seu.
Talvez “saudade” seja isso... Essa coisa louca de perceber que até os defeitos de alguém lhe fazem falta...
Seria clichê dizer que às vezes - ou quase sempre - vejo seu rosto nos que me passam pela rua? Não. Não o vejo. Apenas o procuro, desejando-o, mesmo que me doa admitir.
Sorrio lembrando de nossas brigas.
Estou convencida de que Armando seria um viciado em doces, se chupasse tantas balas quanto fumava cigarros.
Tinha a voz sempre rouca, de quem nunca está 100% saudável e, por trás do semblante calmo, parecia estar sempre ansioso, nervoso por acontecimentos que sequer ensaiavam existir. Sempre à espera do clímax de sua vida, dizia ele, como em um filme.
Se há algo em que fui sincera - e sem arrependimentos - foi em declarar, desinibida e por diversas vezes, o quanto me incomodava a sua maneira de ser.
Me deixava à flor da pele com aquele jeito manso, de quem tem muito a dizer mas nunca parece disposto a falar, temendo revelar mais do que o necessário de si mesmo.
Por isso é tão difícil admitir o quanto seu silêncio carregado me faz falta... Ainda mais quando, na verdade, não é de Armando que eu preciso. Eu sei que não é.
Entretanto, sinto falta de duvidar da integridade de meus nervos. De esquecer a boa educação e arrancar um de seus malditos cigarros recém acesos dos lábios. Atirá-lo ao chão. Pisar no rolinho de nicotina e olhar em seus olhos, triunfante pela sua descompostura.
Ainda que consciente de que mesmo descomposto e desarmado de seu véu esfumaçado era ainda o mesmo homem, me irritando pelo simples jeito cansado com o qual suspira, antes de sorrir de lado e, resignado, admitir o quanto me ama.