sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ma petit

(…)Eu sinto a sua falta. Faltam seus olhos, ainda pequenos de sono, olhando-me ao acordar. Falta sua voz doce fazendo-me prometer que irei te ver mais uma vez no mesmo dia. Falta o seu "tap-tap" impaciente esperando no portão da escola tada vez que eu me atrasava. Falta sua mão segurando a minha ao andarmos nas ruas frias de São Paulo. Faltam seus braços quase me tirando o ar quando toda vez que eu te deixava na portaria e você me pedia para subir. Faltam seus lábios selando uma nova promessa de nos vermos novamente muito em breve. Faltam as palavras doces que eu inventava pra sussurrar em seu ouvido. Falta o meu jeito romântico de tentar frases em italiano, francês e alemão apenas para te impressionar. Falta minha alegria de ver seu rosto corar com palavras bobas que se criam na mente de um apaixonado. (…)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Era um sentir novo.

Uma angústia diferente, cuja intensidade aterrava-o. “Era melancólico ou realista?”, refletia. Mas, em verdade, fosse o que fosse, não desejava mudar. Era-lhe de um conforto soberbo que a vida fosse tão desconcertante. Apenas uma maneira (diversa) de ser exatamente aquilo que era. As lágrimas que ameaçavam seus olhos eram apenas novas reações estimulados por rompantes de raiva, autodesprezo e arrependimento. “Seria tão ruim conformar-se?”, exasperava-se, “Era normal que isso, pouco a pouco, lhe corroesse por dentro?”. Nenhuma dor, ou dúvida, que fosse desconhecida ao menino. Nenhuma aflição que lhe fosse inteiramente inédita, mas, ainda sim, sentia como se experimentasse-nas pela primeira vez. Estava confuso. Sentia-se abandonado e perdido, como uma criança brincando sozinha. Podia rumar para onde quisesse, mas não sabia aonde deveria ir (ou chegar).

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O que você faria?

(...)

- O que você faria se eu dissesse que te amo?

Não se livrou de meu braço, mas afastou o rosto para me olhar.

- Gustav, não me provoque.

Mordi o lábio um tanto nervoso com seu olhar sério.

- Não é provocação.

Soltou meus braços e deu dois passos para trás.

- Então o que é?

Tentei aproximar-me novamente, mas ele recuou. Suspirei, frustrado.

- Talvez seja provocação, mas só um pouco. Você sabe que é verdade, não sabe? Sabe que eu te amo.

- Você tem 17 anos, o que sabe sobre o que é amor?

Entendo por que Daniel tinha medo. Tive receio de aproximar-me também, de ver o que poderia acontecer com nós dois. Mas eu o quero mais do que posso agüentar.

- Sei que tudo no que eu penso é você, tudo o que sonho é você. Eu quero, preciso de você.

Ele deixou-se vencer. Sei que queria continuar a discussão, que achava que não deveríamos continuar com aquilo e que me queria tanto quanto eu o queria, que nos amávamos na mesma intensidade.

(...)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

AMO. e não "amava", "amei", "amara", "amaria"

Onde está o que ainda amo?
Por que você quer se esconder
do seu lado mais lindo
que era só meu?

Você não é mais "só".
O que lhe falta não é alguém.
Falta-lhe você.
Uma imensa dose de si mesmo.
Afogue-se em sua alma.
Só assim torná-la-á mais plácida.

domingo, 8 de maio de 2011

Como se nada (me) bastasse

Sentia como se nada bastasse, como se ‘tudo’ e ‘nada’ não pudessem preencher um décimo do vazio que me consumia.

Não um vazio qualquer, mas uma dor. Uma dor que pulsava crescente, ameaçando até a, por vezes, sufocar-me. Chegava a subir a garganta, mas eu mordia a língua, sem deixá-la escapar. Temendo que, caso o fizesse, ganhasse ares de importância, crendo-se real ou algo do gênero.

Não. Essa dor nada tinha de real. Não passava de mais um fruto qualquer de uma árvore deveras fértil. Era tão minha a maldita, tão só minha, que não podia existir se não dentro de mim. Não havia chão que a fundamentasse em palavras ou gestos. Era tão sútil quanto um sussurro, fazia-se presente com a mesma rapidez que ia embora.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vaidade

Toda vez que ele chegava

Ela estava lá

Penteava os cabelos longos

E o espelho a lhe olhar


Sempre que ele partia

Ela ficava ali

Cuidava do rosto bonito

E o espelho a lhe sorrir


Ele lhe beijava a nuca

Ela não ousava se virar

Ele a queria maluca

Louca ela era já

Ele a amava inteira

Ela não saia do lugar


E o espelho a sonhar


A cada vez que ele gritava

Ela só sabia chorar

Não o olhava de volta

E o espelho a esperar


Quando cansou-se do espelho

E do reflexo dela, afinal

Deixou-a, fechou a porta

Só o espelho a sabia amar