quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Às vezes as caixas estão vazias...

A velha porta de madeira deveria guardar minhas memórias. Mas não as reconheço. Com exceção de algumas poucas, a maior parte me parece estranha.  Está tão desgastada que quase não remete a nada. Angústia, talvez.. A felicidade parecendo tão efêmera quanto a tristeza. A única maneira de sentir é mergulhar de cara no armário, abrir a porta e deixar que as caixas caiam em avalanche, revelando todas as lembranças que se esqueceu com o tempo...

Carinhosamente embrulhadas e amarradas a laços de seda, as caixas parecem, na verdade, pequenos cofres, cuja combinação nunca soube. Abria-as instintivamente, como se um pequeno toque apenas pudesse revelar a história de toda uma vida, ou mesmo de várias.

Eram sempre verdades passadas, que talvez agora já sejam mentiras. Nem todas são boas, ou necessariamente ruins. Mas todas, de uma forma ou de outra, me sufocam.  O desespero está em sentir falta daquilo que sempre desejei ser e não sou... Em ser esmagada pelo que esperava que fosse, mas não é... Não me sinto chorar, mas choro. Talvez grite, mas nunca ouvi.

 Às vezes as caixas estão vazias... E, às vezes, me dizem mais do que se estivessem cheias.