terça-feira, 25 de março de 2014

In Memoriam

Há pessoas que marcamos, para o bem ou para o mal. E há também aqueles que nos marcam.

Algumas vezes essas marcas são como vestígios de batom, que relutamos em lavar. E que mesmo quando saem ainda deixam um rastro invisível, formigando na pele. Outras vezes, as marcas são cicatrizes, escondidas por baixo de camadas e camadas de tecido.  Nuances estranhas, pequenas até, que incomodam  ao toque e, pior, à imaginação.

Já levei chutes. Vários. E tenho certeza de que ainda vou levar uma boa quantidade de rasteiras - e isso só conjecturando os próximos dez anos, os outros vinte então...Um tapa na cara. Ou um soco no nariz. Talvez sejam assim as marcas ruins que trazemos - e que eventualmente fazemos também. Ou, talvez, sejam até melhores em forma de dor física...

Mas o que está em questão, em especial, não são técnicas de MMA, mas algo mais singelo. Lábios de mel transbordando em conselhos e mãos gentis que consolam os sonos mais agitados... São marcas que de tão leves se tornam profundas e, de tão profundas, às vezes se tornam esquecimento...  

Talvez seja “apenas” um pesar. Uma percepção tardia de algo que esteve sempre ali e, de repente, não está mais. Um sentimento infantil de que pessoas boas não deveriam desaparecer... Mas só consigo pensar, talvez como um conforto - ou mania de conjecturar a verdade - , que carregamos essas pessoas conosco. Nem que apenas em algo tão singelo quanto um roçar de lábios embebidos de coloração vermelha, daquelas à prova d’água e de tempo.

Esse pequeno pensamento compartilhado eu dedico in memoriam aos que passaram. Um reconhecimento, quase silencioso, aos que muito me ensinaram.

Para Moysés, Heloísa e Myrthes, pelas marcas de carinho e sabedoria que distribuíram e ainda distribuem por aí...