domingo, 27 de março de 2011

sobre refantasiar

Refantasiar é criar uma nova capa de cores sobre a velha fantasia que já cobre a sempre mesma realidade. Não se vêem as coisas como elas são, então porque temos que aceitar ver como os outro vêem? Ah, não! Quero meus brilhos e minhas lantejoulas para formar a minha máscara pro mundo. Quero criar um desfile numa noite de carnaval, quero ir pra rua e fingir que finjo que sou. Sou o que? É o que quero descobrir. Quero costurar minha fantasia de fantasia de mim para depois tirar todos os panos.

E daí que são dezessete anos e só? Se já amo, sonho, vivo, sei que posso criar. Então escrevo, pois é só assim que posso, meus dedos só sabem falar assim. Gosto de beleza e de desilusão, da bela desilusão de querer. Gosto de gente, de diferença, de milagre e de dor. Gosto até de fingir gostar, de fingir amar, de segredo. Então refantasio. Refantasiemos!

Laura Frazão

--*--

Refantasio porque acredito que a realidade nos prende em demasia, que corta nossas asas sem piedade e retarda-nos a capacidade de compreender as coisas mais simples.
Sonho, sim, com um dia poder voar e adoraria ter um príncipe encantado. Tenho dezessete anos, já sou adulta e, ao mesmo tempo, uma eterna criança. Vivo de fantasiar e desfantasiar aquilo que sou ou, mais ainda, aquilo que gostaria de ser, o que gostaria que fosse (mas não é).
Sonho, crio e replico porque não me contento com “pouco ou quase nada”. Exijo mais da vida do que ela de fato pode me dar, extinguem-se todas as suas possibilidades e ainda anseio por mais.
Sou cretina com ela, não sinto dó das deficiências da vida, e por isso refantasio. E, por isso, tenho que refansiar.

Tamara Martins