quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Parecia Natal

Toda noite, em cada sonho, me aparecia um novo você. Qualquer um me fazia feliz. Te ver de relance já bastava. Às vezes, em te ver de longe, já tinha mais do que nada. Mas eu não queria. Talvez quisesse, mas não queria.

Aos poucos, se iam os amores. Um a um. E, por alguma razão, você ainda estava lá. Em sonho estava, em realidade não. Nos sonhos, estava em todos. Na realidade, em nenhum. Nos momentos de choro, você me abraçava. Iluminava a casa toda, só pra me ver feliz. “Um sorriso, ao menos, vai”, pedia, gaiato, porque sabia que assim sempre me fazia rir. Parecia outro e, de parecer outro, não parecia ninguém. Mas não importava. Não ali.

Parecia Natal com você. Sinto falta do Natal… Das luzes… Vou sentir falta de você.

Sua voz não vai embora… Queria acordar sozinha, ou apenas sem você. Poderia ser alegria, no entanto era tortura. 

Posso ter desejado um você. Desejei.  Mas o que eu quero de verdade – e me recuso a admitir – ainda é você. Sem firulas, sem enfeites, adornos ou meias palavras. Pode nem ser Natal. Pode ser Quarta de Cinzas, pós-Carnaval, ou a primeira Segunda de aulas. Pode ser primeiro dia no trabalho novo. Na verdade – verdade mesmo – bastava ser só você…

Mas, agora, veja só, quero é fugir disso. De nós. De mim. Das lembranças que machucam… Mais ainda das que me fizeram bem. Mas não se foge de um sonho, tanto quanto não se foge de uma realidade.  

Parar de fugir é parar de fingir que me fez mais bem do que mal. Poder acordar em um mundo em que sentir sua falta não signifique tanto. Um lugar, assim, meio louco, em que você não me importe, tanto quanto eu não importei.

Nos meus sonhos, sempre te vejo feliz. Meu consolo é que estejamos todos mais felizes. Ou, apenas, menos tristes. Ouço ecos de risadas (alegres), de uma vida que só pertence a ti, e mais ninguém. A dor é tentar não me ressentir por estar tão bem. Hoje entendo. Ou começo a entender. 

“Quero”, “quero”, “quero”… E, “querer”, eu quero até demais. Quando acordar, quem saiba possa  finalmente poder me despedir. Sem olhar pra trás ou para os lados, procurando, em alguém, os traços de você. Sem encontrar vestígios seus em cada canto escondido da minha vida. Sem ter você em 3 de cada 5 dos meus pensamentos ou em cada 4,5 de 5 das minhas angústias. 

Quando acordo, no silêncio, no escuro de meio de noite, sua ausência me dá alívio. E, o alívio, tristeza.