E de repente
o mar é grande
maior do que jamais
fora antes
Se chegar perto
me chama.
Diz que me quer
em suas entranhas
para duas meninas que sonham com escrever refantasiarem sobre o mundo estranho em que vivem e comem e estudam.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
"Se for tecido, insisto, jamais hei de ser retalho."
Na próxima vida - já que nessa não rola - quero ser algo que não precise de conserto. Uma dessas coisas 100% perfeitas ou irremediavelmente alquebradas, do tipo tão errado que mais vale à pena comprar outro do que pagar o reparo.
Vovó que me desculpe! Essa mania de remendos nunca foi a minha, e nem há de se tornar. Seus casacos tricotados à mão, claro, eu guardo com carinho, sem remendos ou quaisquer costuras adicionais. Se gosto de abraçá-los e me esquentar neles durante as noites frias é porque estão - fora um leve desgaste e algumas peripécias de traças - do mesmo jeito em que me foram entregues, recém-produzidos, há pouco mais de 24 anos e 7 meses atrás...
Mas, quando perguntarem, sim, admito, e respondo que sou mesmo é um típico produto dessa sociedade capitalista-consumista, que vê mais sentido em jogar fora do que reciclar.
Pois se quebro um pedaço, ou racho e arranho o que for, hei de declarar-me logo esgotada! Boa pra nada, nem pra sobra, nem pra penhor.
Se for tecido, insisto, jamais hei de ser retalho.
domingo, 21 de abril de 2013
"Bom dia, o que vai querer?"
Uma vez lera - num desses anúncios baratos de autoajuda - que o primeiro passo para a “felicidade” seria tornar-se o personagem principal de sua própria história.
“Um café comum, por favor. Médio.”
“Senhor?!”
Riu, mais para não chorar das próprias desgraças do que por humor. Via-se tão incapaz quanto o primo distante (do tio) do personagem secundário da história. Aquele que não é mencionado nem quando o autor não sabe mais sobre o que, ou quem, falar.
“Com licença, o senhor já escolheu o que vai querer?!”
Talvez felicidade fosse mais sobre Física.... Em algum momento, há muitos anos atrás, lembrava vagamente de ouvir um professor falar sobre ‘uma lei aí’, dessas muito importantes e relevantes ao cotidiano e ‘coisa e tal’.... Um objeto em inércia tende sempre a permanecer na inércia. Ou algo parecido...
“Senhor, se não vai fazer o pedido, terei que pedir que se afaste do caixa para que eu atenda o próximo cliente.”
Mas, ali estava: completamente inerte, preso na piedade auto-depreciativa do conhecimento, na angústia de não saber sequer que tipo de café escolher.
Olhei para a enorme fila de rostos irritados atrás de mim, estranhando a presença de pessoas a minha volta. Assustado, tirei uma nota amaçada do bolso traseiro da calça jeans.
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