terça-feira, 8 de novembro de 2011

Marco

"Era a morte. Fora tão sorrateira quanto lhe disseram que seria. Virou o pulso machucado, estava atrasado. Sua mãe ficaria furiosa novamente, ligaria para Anthony e reclamaria do filho desnaturado que não puxara em nada a pontualidade inglesa da família. Podia até visualizar a cena: o irmão, perfeito, de terno sob medida e gravata italiana, no escritório renomado em que trabalhava, deixando de lado o computador de última geração para atender à Dona Rosemary e ouví-la reclamar sobre a atitude irresponsável do filho mais novo. Sim, 'mais novo'. Não fosse pelo intervalo de três minutos, o qual, segundo a mãe, fora essencial para separar o gêmeo bem-sucedido do fracassado, teriam sido idênticos. Compartilhavam os mesmos cabelos morenos e, até certa idade, o mesmo brilho aventureiro nos olhos verdes. O caçula sorriu, ignorando a dor e abraçando suas deliciosas memórias infantis. Na época, eram apenas Tony e Marc, duas crianças absurdamente altas para a própria idade. Inseparáveis, adoravam brincar de desenhar e construir coisas, sonhavam em ser arquitetos e dominar o mundo. Apesar da tenra idade, eram excepcionais em quase tudo que faziam, admitiam-no. 'Tempos Dourados, que não voltam mais', sussurrou para si mesmo. Os meninos logo cresceram. Tony e Marc viraram Anthony, o engenheiro dono de empresa e Marco, o desempregado com negócios escusos. Simplesmente acontecera... Em um dia estavam juntos, no outro já não estavam mais. Verdade seja dita, sua mãe nunca o vira com bons olhos. Sabia, desde sempre, diferenciá-lo de seu irmão, tal qual um fruto podre, que facilmente se destoa dos demais. Ela estava certa no final das contas. Marc era covarde, talvez fosse esse seu maior defeito."

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