terça-feira, 5 de março de 2013

Escola

A sala cheirava a cigarros e àquele vinho barato que haviam comprado no caminho. O fim da tarde enchia tudo de rosa e dourado e a maresia entrava pela janela entreaberta. Fechou os olhos e sentiu o chão gelado em suas costas. Lá fora, eles brincavam debaixo da amendoeira. Era mesmo uma amendoeira? Bem poderia ser qualquer árvore. Mas gostava daquele nome. A-men-do-ei-ra. Lá fora, eles riam. Quando seria tarde o suficiente para que a casa ficasse em silêncio?
Aquele último raio oblíquo encontrou uma fresta para ficar sobre seu corpo e esquentar aquele pequeno pedaço. Lá dentro fazia tanto frio com as janela fechadas! Mas não queria sair. Nao queria sol, claridade ou companhia. Só queria um cigarro. Bem na verdade, queria escrever. Alguma daquelas bonitas alegorias. Ou mesmo dizer a verdade. Queria aprender a enfrentar o que doía. Mas não existe escola para isso.
Suspirou. Talvez devesse voltar para o colégio. Estava pronta para seguir adiante? Não queria acabar escolhendo o mais difícil. Ali tudo era tão fácil! Trocaria isso pela liberdade? Mas não podia ser livre. Não sabia assumir responsabilidades, resolver problemas. É, talvez devesse voltar para a escola. Se não aprendesse a se conhecer — diabos! — ao menos aprenderia alguma coisa.

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