para duas meninas que sonham com escrever refantasiarem sobre o mundo estranho em que vivem e comem e estudam.
domingo, 24 de abril de 2011
até que descobri como dar fim
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Noite passada
Sonhei que nada havia mudado. Exceto por seus cabelos, que haviam crescido, o tempo lhe fora generoso, não tinha rugas. Voltava de uma viagem de férias prolongadas e parecia cansado. Entrei no quarto. Encontrei-o dormindo, mas logo acordou – como se pudesse sentir que estava ali–, sem sequer dar-me tempo para acostumar-me com o novo contexto que apresentava-se diante de mim. Um contexto inusitado, no qual meu avô estava vivo. Não só estava vivo, como ali, sentando-se na cama, disposto a me dar o abraço que por tanto ansiei, disposto a afagar meus cabelos e dizer que estava tudo bem, que as férias haviam sido ótimas e que vivera mil e uma aventuras, as quais seriam relatadas com minúcias em uma próxima ocasião. Disse-me ainda ter sentido minha falta e ter voltado para ficar, mas a contragosto, não permite-me ludibriar por suas falas tão carinhosas. Já fora embora uma vez. Aquilo era apenas um sonho, ele iria embora novamente, não haveria uma “próxima ocasião”. Abracei-o mais forte. Se era tão real, então por que não era realidade? Queria crer, mas não conseguia. Queria poder, de alguma maneira, tornar verdadeiro aquele quarto, aquela cena tão maliciosamente elaborada pelo meu subconsciente. O tempo, entretanto, passou em um borrão e o que outrora fora meu avô abraçando-me, mostrou-se ser apenas mais um quarto vazio.
terça-feira, 19 de abril de 2011
"your skin and bones"
Como os olhos são bonitos! Talvez por serem comuns. Talvez por terem aquele olhar, desses que te atravessam, vêem seus ossos. Desses que dão medo de suportar. Talvez por isso sejam tão bonitos.
O que mais existe por trás dos olhos? Alma? E é alma isso que a gente têm, isso que nos move? Acho que sinto dor na alma quando olho pra você. Ou talvez seja só falha num órgão velho e inútil. Quem sabe dói-me o coração.
Tem que haver algo depois desse jeito que tem de mirar. Deve doer também.
Então o que existe mais é dor. Amor é dor também, é doença, contagia. Mas tem quem seja imune. E quem seja vulnerável, que pegue muitas, muitas vezes. Amar é esquisito, te quebra um pouco, te deixa velho. E jovem, um pouco. É tanto sangue correndo! É engraçado que sangue te mantém vivo, mas te envelhece, te mata devagar.
Que tortura!
Olhos vêm para dar espaço à dor, que é também o amor, que, com e como o sangue, te assassina e te remoça. Há tanto que não entendo! Você, por exemplo. Seus lábios
domingo, 17 de abril de 2011
Mas sou eu.
Sou eu quem não quer deixar ir, sou eu quem tem medo, sou eu quem sente saudades, sou eu quem quer lembrar.
Uma lágrima desce. Seus olhos quase vítreos me encaram em um silencioso “Quem é você?”, ao mesmo tempo em que seus sussurros sufocados gritam por um socorro ininteligível. Age como se me visse - embora não reconhecesse -, cega por uma dor que, de fato, não é dela. Iludida por uma falsa verdade, por uma mentira que sequer lhe pertence. A dor é minha. A angústia é de quem se senta ao lado e assiste de camarote. A saudade, de quem lembra do outrora que não volta mais. Afasto-me. Erro, sei que erro. Choro, mas não adianta. Ninguém à minha volta sabe o que fazer, mas não ser a única não traz conforto. Nada traz conforto. Afinal, quem se apraz com a desorientação? Eu não. Me sinto mal, perdida, como se fosse levada por um desconhecido. Um desconhecido que, em verdade, é o “eu” que só ela vê.
sábado, 9 de abril de 2011
Quando fecho os olhos, o mundo some
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Re - gres - são
“Volta, retrocesso. O mesmo que regresso; recuo; diminuição (...)”
Morro de medo de regredir – até por pensar, em parte, no próprio medo de regredir como uma regressão.
Antes fosse retroceder (ao invés de regredir). Retroceder tem todo um tom elegante, e definitivamente mais delicado, do que regredir. Só o mais sábio dos sábios tem a coragem de submeter-se ao retrocesso. Coragem? Sim, isso mesmo. Ao contrário da covardia demandada de quem regride, o ato de retroceder exige coragem.
Infelizmente, entretanto, não é esse o meu caso. O que me assola é tão meramente um medo. Um não. Vários, aliás. Tenho medo de tudo, e tão grandes de travar a língua e fazer tremer os dedos. Tenho medo de ser covarde, de fazer mal a alguém, de ferir. Tenho medo de voltar a ser criança e tenho medo de ser adulta. Medo de falar em público, de olhar nos olhos de alguém e revelar mais do que gostaria. Mas – principalmente – tenho, desde sempre, um medo aterrador de encontrar uma barata no meu quarto.