quarta-feira, 20 de abril de 2011

Noite passada

Sonhei que nada havia mudado. Exceto por seus cabelos, que haviam crescido, o tempo lhe fora generoso, não tinha rugas. Voltava de uma viagem de férias prolongadas e parecia cansado. Entrei no quarto. Encontrei-o dormindo, mas logo acordou – como se pudesse sentir que estava ali–, sem sequer dar-me tempo para acostumar-me com o novo contexto que apresentava-se diante de mim. Um contexto inusitado, no qual meu avô estava vivo. Não só estava vivo, como ali, sentando-se na cama, disposto a me dar o abraço que por tanto ansiei, disposto a afagar meus cabelos e dizer que estava tudo bem, que as férias haviam sido ótimas e que vivera mil e uma aventuras, as quais seriam relatadas com minúcias em uma próxima ocasião. Disse-me ainda ter sentido minha falta e ter voltado para ficar, mas a contragosto, não permite-me ludibriar por suas falas tão carinhosas. Já fora embora uma vez. Aquilo era apenas um sonho, ele iria embora novamente, não haveria uma “próxima ocasião”. Abracei-o mais forte. Se era tão real, então por que não era realidade? Queria crer, mas não conseguia. Queria poder, de alguma maneira, tornar verdadeiro aquele quarto, aquela cena tão maliciosamente elaborada pelo meu subconsciente. O tempo, entretanto, passou em um borrão e o que outrora fora meu avô abraçando-me, mostrou-se ser apenas mais um quarto vazio.

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